terça-feira, 29 de novembro de 2011

Leandro Elétrico...

Olá somos Djeferson e Rosileine pais de Vitor (11 anos) e Leandro (7 anos), o Leandro foi diagnosticado com 5 anos com a síndrome de asperger e como todos os pais no início tivemos muitas dificuldades de adaptação na escola e na sociedade em geral. Mas com o tempo vamos ficando calejados e aprendemos a lidar com as dificuldades e a olhar a vida com outros olhos. Atrevemo-nos a dizer que ser pais de uma criança especial nos torna pessoas melhores.
O Leandro é uma criança especial, tem dificuldades na alfabetização, mas às vezes nos chega com indagações surpreendentes, esta semana estávamos passeando de carro e ele perguntou: “Como é que tem eletricidade no carro” (pois ele viu as luzes do painel) ”é com um raio?” Na sequência ele falou sobre o Benjamim... Ficamos surpresos e logo entendemos que ele tinha visto um vídeo na escola falando sobre como as coisas são feitas e passou algo sobre Benjamim Franklin. Expliquei que tinha uma pilha gigante no carro chamada de bateria e quando chegamos em casa mostrei a bateria pra ele.
Este exemplo deixa bem claro que quando o assunto interessa a atenção acontece e ele consegue gravar as informações, cabe aos profissionais da educação buscar essa atenção utilizando métodos não convencionais.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Medo de dormir...

Lá pelos 5 anos enfrentamos um problema muito grande de medo, por parte do Guilherme.
Era um medo geral, de quase tudo. Principalmente de dormir...
Toda vez que ia dormir era uma choradeira.. um medo enorme... soluçava, etc.
Já não sabíamos mais o que fazer. Ficava tensa na hora de colocar ele na cama, porque explicava que não precisava ter medo, que a mamãe e o papai iriam protegê-lo, mas nada adiantava. Às vezes também perdia a paciência e dizia para ele dormir e pronto. Outras deitava com ele até adormecer.
Tentamos entender o que estava causando medo e ele dizia que um anjo pegando fogo ficava na beira da cama dele toda a noite e o anjo tinha cara de mau...
Mas esse assuto já estava cansando... eu precisava achar uma solução.
Até que encontrei um livro de atividades muito interessantes e lá falava de tentar algo que mexesse com o psicológico dele. De forma que o foco, na hora de dormir, fosse outro e que ele, através de algo concreto, se sentisse protegido.
Peguei um vidro velho de essência de chocolate (... era o único que eu tinha em casa! Hehehehe) e falei para o Gui que era um líquido mágico.
Claro que coloquei um embrulho especial e fiz um monte de cerimônias com a essência.
Falei que esse líquido mágico passava pela nossa família há gerações, para que fosse usado com todas as crianças que tinham medo de dormir.
Que o segredo para acabarmos com esse medo era borrifarmos o líquido em cada canto do quarto dele e embaixo da cama gritando Hei, Hei, Hei (para me divertir  e conseguir a participação dele).
Falei que esse líquido iria criar uma barreira invisível ao redor dele e não iria permitir que nenhum monstro ou bruxa ou anjo pegando fogo pudessem entrar.
Ele ficou tão fascinado com a história que logo dormiu.
Daí passamos a borrifar a essência todos os dias... depois dia sim e dia não. Até que um dia ele me disse que o medo acabou e não precisei mais usar.

Eu pude comprovar que o livro estava certo! Legal, né!?

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Vou te cuidar... para sempre!

Um dia desses coloquei todas as almofadas do sofá no sol para poder deitar  e meditar um pouco após o almoço.
Estava um sol gostoso, não muito forte e uma brisa leve, quase angelical. A calma do ambiente estava propícia à reflexão.
Deitei alí e comecei a mentalizar muitas coisas boas para a nossa família. O Gui chegou perto e perguntou bem baixinho, para não me perturbar: _ Posso deitar com vc mamãe? (Ele me chama de "mamãe" e eu adoro. Só ás vezes chama mãe).
Nooossa, nem tinha mentalizado direito e já estava sendo agraciada!!!
Falei: _ Claro, meu amor! Vem deitar com a maezinha?
Ficamos uns segundos calados, até mesmo porque não conseguia falar. A emoção que me tomou conta foi tamanha, que ao final desses segundos falei a ele o quanto estava feliz em estar alí, abraçadinha com ele, o quanto o amo e o quanto amo o papai e a mana.
Ele me olhou no fundo dos olhos, como se estivesse encontrando a minha alma, e disse: _ Mamae, você vai me cuidar para sempre?
Respondi: _ Vou cuidar um pouco, pois quando vc crescer já vai saber se cuidar sozinho. Eu vou te ensinar a se cuidar sozinho. Daí você vai cuidar de mim quando ficar velhinha. Certo!?
Ele respondeu: _ Não sei. Quando vc ficar velhinha não vou saber se vc é minha mãe ou minha vó! Será que vou te reconhecer?
Risos...
O entender tudo ao pé da letra nos autistas é engraçado, não é?

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Depoimento de Mãe

Estou muito empolgada com essa oportunidade de aprendizado, que o blog vem me proporcionando.
Aprender coisas novas, o contato com outras mães que estão passando pela mesma situação e a troca de experiências me fascinam.
Tenho me dedicado a leitura de artigos sobre autismo há longa data e talvez, nunca tenha parado para pensar no quanto é importante o depoimento sincero de uma mãe.
Quando a gente pára para pensar e reflete sobre o que vai colocar no papel, uma onda.. melhor, uma tsunami de idéias vêm à cabeça.
Relembramos o nascimento, o primeiro olhar, a hora do banho, os sonhos idealizados, as reuniões de família e toda a felicidade que cerca a celebração de uma nova vida.
Também vêm à tona todo sofrimento do diagnóstico, a peregrinação, a falta de habilidade com a nova situação, o choro, a raiva, a pena, o amor incondicional e, para alguns, a decisão de crescer com essa nova realidade. Porque ás vezes mergulhamos na dor de uma forma tão egoísta?
Na minha opinião esses momentos são de grande valia para o nosso amadurecimento moral. Acredito que devemos viver dias de luto, mas jamais podemos fazer com que esses dias de luto durem uma vida toda.
E o luto volta... em um casamento, em uma formatura, sempre nos deprimimos pela incerteza do futuro.
Infelizmente não o sabemos, mas porque nos deixamos sofrer pelo desconhecido?
Minha idéia nesse momento é de celebrar o presente de forma grandiosa e com toda a pompa e importância que ele merece. Temos uma grande oportunidade de mudarmos o nosso futuro se conseguirmos viver e aproveitarmos melhor o presente.
Se nos concentrarmos mais nisso, nossas angústias, mágoas e aflições vão embora. Isso é uma questão apenas de física "padrão vibratório" se vibrarmos positivamente, nossas células produzirão compostos benéficos ao nosso organismo e teremos um futuro de mais esperança.
Minha dica de hoje é VIVA O HOJE, viva o seu filho, celebre a vida e tenha certeza de que uma energia maior está pronta para nos dar forças. Basta estarmos receptivos a ela, ou melhor, basta querermos e vibrarmos para isso.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Poesia

Construa-me uma ponte

Eu sei que você e eu
Nunca fomos iguais.

E eu costumava olhar para as estrelas à noite
E queria saber de qual delas eu vim.

Porque eu pareço ser parte de um outro mundo
E eu nunca saberei do que ele é feito.

A não ser que você me construa uma ponte, construa-me uma ponte,
Construa-me uma ponte de amor.
Eu quero muito ser bem sucedido.

E tudo o que preciso é ter uma ponte,
Uma ponte construída de mim até você.

E eu estarei junto a você para sempre,
Nada poderá nos separar.

Se você me construir uma ponte, uma pequenina ponte, minúscula ponte
De minha alma, para o fundo de seu coração.
McKean
Autista, 28 anos, escritor

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Veja abaixo as características de um autista:

O QUE NOS PEDIRIA UM AUTISTA

1 - Ajuda-me a compreender. Organize meu mundo e facilita-me ou antecipe o que vai suceder. Dá-me ordem, estrutura, e não caos.

2 - Não te angusties comigo, porque me angustio. Respeita meu ritmo. Sempre poderás relacionar-se comigo se compreender minhas necessidades e meu modo especial de entender a realidade. Não se deprima, o normal é que avance e me desenvolva cada vez mais.

3 - Não me fale demasiado, nem demasiado depressa. As palavras são "ar" que não pesa para ti, mas podem ser uma carga muito pesada para mim. Muitas vezes não são a melhor maneira de relacionar-se comigo.

4 - Como outros filhos, como outros adultos, necessito compartilhar o prazer e gosto de fazer as coisas bem, mesmo que nem sempre o consiga . Faz-me saber, de algum modo, quando consigo fazer as coisas bem e ajuda-me a fazê-las sem erros. Quando tenho demasiadas falhas sucede que me irrito e termino por negar-me a fazer as coisas.

5 - Necessito de mais ordem do que você necessita, mais previsibilidade no meio  que você requer . Teremos que negociar meus rituais para conviver.

6 - É difícil compreender o sentido de muitas das coisas que me pedem para fazer. Ajuda-me a entendê-las Peça-me coisas que podem ter um sentido concreto e decifra as para mim. Não permitas que me acomode e permaneça inativo.

7 - Não me invadas excessivamente. Às vezes, as pessoas são demasiadamente imprevisíveis, demasiadamente ruidosas, demasiadamente estimulantes. Respeita as distancias que necessito, porém sem deixar-me só.

8 - O que faço não é contra você. Quando tenho uma zanga ou me golpeio, se destruo algo ou me movimento em excesso, quando me é difícil atender ou fazer o que me pede, não estou querendo te prejudicar. Já que tenho um problema de intenções, não me atribuas más intenções!

9 - Meu desenvolvimento não é absurdo, embora não seja fácil de entender. Tem sua própria lógica e muitas das condutas que chamas "alteradas" são formas de enfrentar o mundo na minha especial forma de ser e perceber. Faz um esforço para compreender-me.

10- As outras pessoas são demasiadamente complicadas. Meu mundo não é complexo e fechado, senão simples. Embora te pareça estranho o que te digo, meu mundo é tão aberto, tão sem dissimulações nem mentiras, tão ingenuamente exposto aos demais, que é difícil penetrar nele. Não vivo em uma "fortaleza vazia", nem em uma planície tão aberta que pode parecer inacessível. Tenho muito menos complicações que as pessoas que são consideradas normais.

11- Não me peças sempre as mesmas coisas nem me exijas as mesmas rotinas. Não tens que fazer-te autista para ajudar-me. O autista sou eu, não você!

12- Não sou só autista. Também sou uma criança, um adolescente, ou um adulto. Compartilho muitas coisas das crianças, adolescentes ou adultos ditos "normais ". Gosto de jogar e divertir-me, quero os meus pais e pessoas que me cercam, me sinto satisfeito quando faço as coisas bem. É aquilo que compartilhamos que nos une.

13- Vale a pena viver comigo. Poço dar-lhe tantas satisfações quanto outras pessoas, embora não sejam as mesmas . Pode chegar um momento em sua vida em que eu, que sou autista, seja sua maior e melhor companhia.

14- Não me agridas quimicamente. Se te dizem que tenho que tomar um medicamento, providencie que seja revisado periodicamente por um especialista.

15- Nem meus pais nem eu temos culpa do que me passa. Tão pouco a tem os profissionais que me ajudam. Não serve de nada que os culpe. Às vezes, minhas reações e condutas podem ser difíceis de compreender ou afrontar, porém não é por culpa de nada . A idéia de "culpa" não produz mais que sofrimento em relação ao meu problema.

16- Não me peças constantemente coisas acima do que sou capaz de fazer. Porém peça-me o que poço fazer. Dá-me ajuda para ser mais autônomo, para compreender melhor, porém não me dê ajuda demais.

17- Não tens que trocar completamente sua vida pelo fato de viver com uma pessoa autista. Não me serve de nada que esteja mal, que te encerres e te deprimas. Necessito estabilidade e bem estar emocional ao meu redor para estar melhor. Pensa que, menos ainda, seu par tem culpa do que me passa.

18- Ajuda-me com naturalidade, sem convertê-lo em uma obsessão. Para poder ajudar-me, tenha seus momentos de repouso ou dedique a suas própria atividades. Aproxime-se de mim, não se vá, porém não se sinta submetido a um peso insuportável. Em minha vida, tenho momentos maus, porem poço estar cada vez melhor.

19- Me aceita como sou. Não condicione sua aceitação a que eu deixe de ser autista. Seja otimista sem fazer "novelas". Minha situação normalmente melhora, ainda que pôr hora não tenha cura .

20- Ainda que me seja difícil comunicar-me ou não compreenda as sutilezas sociais, tenho incluso algumas vantagens em relação aos ditos "normais". Me custa comunicar, porém o não posso enganar. Não compreendo as sutilezas sociais, porém tão pouco participo das duplas intenções ou dos sentimentos perigosos tão freqüentes na vida social. Minha vida pode ser satisfatória se é simples, ordenada e tranqüila. Se não me pede constantemente e sou aquele que mais me custa. Ser autista é um modo de ser, ainda que não seja o normal. Minha vida como autista pode ser tão feliz e satisfatória como a sua "normal". Nessa vida, podemos encontrar-nos e compartilhar muitas experiências.

 

Angel Rivière Autism-Spain  - Assessor Técnico da APNA - Madrid, 1996.