quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Depoimento Roubado

Gente,
Peguei esse depoimento em outro blog e estou colocando aqui porque acho interessante que todos leiam. Esse depoimento mexeu muito comigo!
Um abraço,
Alessandra


Meu nome é Grace Caroline, nasci em 1971,em Curitibanos , no planalto serrano do estado de Santa Catarina, cidade pequena e obviamente muito provinciana.
Em 1976 eu já tinha dois irmãozinhos, uma menina e um menino, atualmente somos uma família com muitos irmãos, é um número bem grande de histórias de vida pra contar.
Mas foi na minha infância que se percebiam os comportamentos mais estranhos.
Eu era uma criança que não se comportava da maneira esperada:
Adorava ficar sozinha.
Não gostava de brincar com meus irmãos por mais divertidos que eles fossem.
Adorava ficar na casa da minha avó materna, pois era enorme e lá eu sempre achava um jeito de me isolar.
Era considerada a criança mais preguiçosa do planeta.
Ah! também era a criança mais antipática da família.
A mais “birrenta” e “chiliquenta”.
Tinha um comportamento considerado adulto.
Odiava qualquer confraternização familiar, até minhas festas de aniversário era motivo de muito sofrimento.
E para piorar tudo eu verbalizava tudo o que pensava, quase sempre contrangendo e ofendendo as pessoas.
Considerada uma criança muito “desenvolvida” para a idade, pelo discurso muito precoce.
Lembro da minha mãe contando que a professora da primeira série a chamou para contar que eu colocava as mãos nos ouvidos por causa da conversa dos colegas, e que eu não me relacionava, então uma coleguinha se aproximou e foi a única amiga que eu tive durante a primeira infância.
Eu também tinha o sono alterado, sofria para dormir.
Sempre dizia para minha mãe que não era deste mundo, que não queria ser assim, que ouvia os sons como se eles fossem mais altos para mim, uma vez eu cheguei a comentar que quando a água do chuveiro caía na minha cabeça o barulho parecia uma multidão de pessoas falando ao mesmo tempo.
Na pré adolescência me enchi de amigos, contava segredos pra todo mundo, dava minha opinião sobre tudo , eu achava que todas as pessoas eram minhas amigas, não via defeito nem maldade em ninguém, um comportamento muito infantil, mas eu entendia que isso era “ser boa”, que acreditar nas pessoas era uma virtude.
Eu lembro de sempre ser obcecada por um dos amigos, eu ficava fascinada e não desgrudava da pessoa até ser rejeitada explicitamente, e sofria muito com isso.
O tempo foi passando e chegou a adolescência, aí aquele “amadurecimento precoce” foi embora e o processo se inverteu, fiquei “infantilizada” quando deveria estar amadurecendo.
A adolescência foi o período onde eu passei a não saber quem eu era, a ser excluída dos grupos onde tentava fazer parte, o meu comportamento sexual e afetivo, era quase sempre inadequado para os padrões.
Por volta dos meus 14 anos eu fui vítima de todo tipo de abuso, enfim o caos foi uma realidade por muito tempo.
Vieram os relacionamentos amorosos, todos muito sofridos.
Aos 18 anos passei no vestibular, aos 21 me formei.
Aos 24 anos tive meu primeiro filho, solteira, consegui ficar com ele por três anos e meio, mas a dificuldade era enorme em todos os sentidos, sofria de depressão, ansiedade, processo confundido com bipolaridade , eu só pensava em morrer, então não consegui e fui embora da cidade deixando meu precioso filho com minha família.
Não era a primeira vez que eu ia embora em busca de ajuda.
Nesta última partida quando deixei meu filho, demorei 6 anos para retornar e foram os seis anos mais complicados, mas foi o começo do fim.
Meu filho sempre foi o meu rumo certo, a minha certeza, o meu destino, o meu motivo para continuar tentando sobreviver neste planeta que até hoje não entendo.
Nessas andanças todas reencontrei origens e refiz contato com meu próprio espírito, que andava recluso e destruído por tanto sofrimento.
Voltei aos 34, casada e grávida da minha filha caçula, que é o anjo enviado para me tirar desta ignorância toda, desta falta de chão que sempre foi a minha vida!
Sobre como e quando foi que recebi o diagnóstico de autismo e o que mudou para mim, o que eu posso dizer é:
Foi no ano passado (2009), com 37 anos.
Minha mãe não achava necessário que eu levasse minha filha ao médico, dizia que o problema da minha filha era ser igual a mim e eu mesma achava que a “sina” da minha filha era padecer como eu.
Quando veio o diagnóstico da minha filha de “autismo clássico de alto funcionamento não verbal” e a única diferença comigo é que eu sou verbal então veio o esclarecimento, eu também sou autista.
A minha filha ainda pode adquirir a linguagem verbal, ela só tem 4 anos.
O que mudou para mim, foi que eu saí de uma condição de ignorância profunda de “mim mesma”, foi um alívio, um sentimento de ter recebido uma “carta de alforria”, foi ter a oportunidade de ficar livre de qualquer jugo ou domínio, oportunidade de ganhar minha independência.
O conhecimento da minha condição de autista, não é uma oportunidade de justificar meus “ERROS”, mas sim a oportunidade de tentar ser aceita do jeito que eu sou, mas não está sendo fácil, porque eu me sinto constrangida, acuada, e ainda não sei lidar comigo mesma, pois até hoje eu fui uma pessoa submissa, dependente, escrava da opinião alheia por não me conhecer, não entender minhas próprias atitudes.
Não sei se vou conseguir ser respeitada algum dia como eu gostaria de ser, mas pelo menos para mim, meu marido e meus filhos foi um alívio!!
E aos 38 anos, criei este blog para tentar organizar minha cabeça, sair desta confusão mental intensa que me faz ficar prostrada diante da vida sempre pedindo para que tudo acabe logo!

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